segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Você foi enganado!


Ficar mais velho sempre foi pra mim uma sensação de aprendizado enorme. Gosto da ideia de aprender algo e sair do estado de conforto ou de ser o que sempre foi, mas agora nessa faixa entre 30 e 40 anos, o nível de aprendizado tem sido diferente. Não tenho aprendido como ser adulto ou coisa do gênero, que aconteceu mais fortemente na fase do 20 a 30 anos. O que tenho aprendido, refletido e ressignificado comigo hoje em dia diz respeito a ser quem sou. 

Cuidado, você pode estar sendo enganado!
Olhar pra dentro e perceber quem sou, está diretamente ligado a repensar muita coisa do que fiz e que muitas vezes acreditei e tive certezas, pois me ensinaram que assim é que era pra ser. Hoje, uma das maiores certezas que tenho na vida é de que fomos enganados desde pequenos. O mundo que nos fizeram acreditar ser e ter, não é o mundo que acredito que tenha e seja hoje em dia. E livrar-se dessa cultura toda que lhe é impregnada desde o início quando seus pais desejam desesperadamente te ver falando "papai" e "mamãe", desde quando começam a te dizer o que é "bonito" e "feio", é muito complicado. Descobrir que muito do que você fez foi apenas reproduzir, é foda de assumir, admitir e se dar a chance de começar novamente. Eu tenho passado por essa dificuldade. Mas a cada vez que aceito jogar fora um conceito antigo, cada momento que permito-me não saber nada sobre algo, me sinto melhor, mais leve e mais capaz de a partir de agora ser mais crítico, sensato e de viver minha vida livremente. 

Não quero aqui dizer que fui vítima. Meus pais não me enganaram propositalmente. Eles fizeram e fazem o melhor que podem até hoje. Mas esse não é o mundo que quero ensinar pras pessoas à minha volta. Existe algo além dessa vida corrida que nos dizem que é "normal". Existe pessoas mais interessantes pra conhecermos do que as que aparecem na tv. Existem muito mais por aí. É se dar a chance de se esvaziar, por um momento ficar sozinho, curtir uma solidão e a partir daí, começar novamente. 

Nos ensinam desde cedo que a felicidade está na conquista.
Quando penso nisso, quando percebo o quanto de vida nova que tem a minha volta. O tanto de coisas que ainda posso ser, viver e experienciar, fico até empolgado. Mas dessa vez com mais calma. Sem tanta pressa. Sabendo que tenho meu próprio tempo e não o tempo que me dizem ser preciso pra atingir "sucesso". Me sinto realmente como se estivesse no filme Matrix, descobrindo que o que vivi a vida toda, foi apenas uma ilusão. Os medos que nos colocam, as regras que nos ditam, são apenas maneiras de se tentar deixar tudo como sempre esteve. Podemos ir muito além disso. Espero realmente que essa fase de redescoberta que tem acontecido nesses últimos anos possa me livrar dos meus demônios e dos demônios que tentaram me impor. 

Hoje em dia me sinto muito mais tranquilo com pessoas que tentam dizer que você é diferente num sentido pejorativo. Ser diferente é o normal da história toda. Hoje em dia não vejo tv, não curto comédias românticas, não acredito que é preciso estar junto com sua "alma gêmea" para estar realizado. Não acredito que é preciso haver ausência de coisas ruins para ser feliz. Percebo que estar só é um momento único para se contemplar. E que momentos com outras pessoas precisam ser muito bem vividos, pois terão fim e que você não pode depender emocionalmente deles.

Passei daquela época de rebeldia, onde achava que o mundo girava a minha volta e que haviam armado pra cima de mim e parto pra tentar enxergar que realidade posso criar a minha volta, já que não concordo com a realidade que existe para muitos. Essa possibilidade de você ser dono do seu próprio caminho é a sensação que mais confunde e faz muitos apenas reproduzirem e viver o que todos já vivem, pois ao mesmo tempo que  te dá a chance de viver algo espetacular, é inseguro, pode não dar certo e muitos não gostam da ideia de começar tudo novamente. Já pra mim, é o que me seduz. O desconforto que me gera conforto, pertencimento e que me gera a ideia de que estou no caminho "certo", o caminho que acredito.



Não estou com essa segurança toda nem com total domínio sobre tudo(não quero ter esse domínio total nunca), mas confesso que estar em outro caminho, que não o da "vida feliz" e de "sucesso" pregada e construída pra gente, tem me deixado bem orgulhoso da fase que vivo.

E você? O que faria se agisse como se não tivesse medo?

terça-feira, 13 de agosto de 2013

(Des)Acelerando



Minha vida é acelerada, mas percebo que por muitas vezes fiz questão de acelerá-la. Seja por ser desorganizado e ver tudo o que tenho pra fazer ser algo que me deixaria em estado de "correria", seja por momentos da vida que as situações te pedem tomada de decisões simultâneas mesmo. 

Sou assim há muito tempo e já faz uns 5 ou 6 anos que não me orgulho muito disso. Acredito realmente que é preciso desacelerar. E se você não cuidar muito bem disso e tomar as rédeas pra organizar-se e tomar decisões em que fatalmente vá ter que abrir mão de algo, a vida, nos dias de hoje, toma conta disso pra você e te coloca em um processo de aceleração absurda, e pior, te faz acreditar que isso é o normal, que quem tem tempo pra si, pro ócio, pra observar e olhar pra você, é apenas uma pessoa sem noção. 

Dessas horas lembro de alguns textos que falam sobre isso. E essa semana tive a sorte de dar de cara com esse aqui. Que fala um pouco sobre o tempo que temos, o tempo que acreditamos ter e como passamos essa ideia de vida corrida para as próximas gerações. 

Certamente esse texto fala muito melhor que eu sobre as decisões e reflexões que temos de ter acerca de termos mais tempo para nós.

Vale a pena a leitura. Recomendo!

Sem mais.  

domingo, 21 de julho de 2013

O poder da derrota.





De tudo que vivi na vida, uma experiência em especial me ensina tanto e me produz significativa mudança. Estou falando da experiência da derrota. Derrotas, tanto no sentido literal quanto figurado, fazem parte da nossa vida em toda nossa trajetória. No meu caso, como trabalho com esportes, a derrota também diversas vezes está descrita no placar final de uma partida. Mas com o tempo de vida e de experiência de trabalho, aprendi que a derrota vai muito além de números expressos em placares eletrônicos. E quando você perde, quando o que você planeja na sua vida não dá certo, você é acometido por uma onda de observações e pensamentos que te fazem mergulhar dentro de si. Na derrota você é obrigado a vasculhar-se internamente e é claro que você sempre acaba encontrando "sujeiras" e questões não resolvidas. 

E acredito realmente que são nesses momentos que mais cresço. Não que eu fique em busca de derrotas na vida pra poder evoluir e que não aprenda e cresça em experiências bem sucedidas. Mas é que a derrota me causa um impacto imediato e reação interna que tem um alcance muito maior do que anos tentando ser melhor. Pra mim, dói demais, ecoa em minhas entranhas, mexe com minhas crenças, ações e reações, mas ajudam a reavaliar-me. 

Quando garoto adorava a sensação do sofrimento, aliás, remoía cada momento e me julgava diversas e repetidas vezes até esgotar-me em mim mesmo pra começar de novo. Hoje em dia não perco esse tempo todo. Hoje penso que não devemos sofrer tanto nas derrotas nem comemorarmos demais nas vitórias. A vida é um eterno vai e volta, sobe e desce e tudo muda o tempo todo. O importante é estar preparado para estas mudanças e preparado para mudar e continuar evoluindo. Mas se tem algo que me ataca com força e me causa extremo impacto é quando percebo que apesar de estar centrado, focado em melhorar e conseguir ter êxito, descubro que errei, que poderia ter feito diferente e que, por consequência disso, derrotas te acontecem. É foda. O baque, a pancada, a dor que causa é diretamente proporcional à vontade de dar a volta por cima. 

No primeiro dia acuso o golpe, ainda me mantenho ativo, falo com os outros conto o que estou sentindo, brinco com a situação (rir pra não chorar) e vou começando a sentir o gosto de tudo que não quero pra mim. No dia seguinte me isolo, me fecho, quero tentar entender de onde veio tudo isso, como cheguei até este patamar e começo a detalhar cada passo meu recente que pode ter me levado a tal situação. Nessa fase normalmente começo a perceber que posso ter cometido erros óbvios e que, por serem óbvios, foram deixados de lado, esquecidos e repetidos. Faço uma avaliação de que ponto estou e do que preciso recalcular pra seguir em frente. No terceiro dia já estou inquieto, querendo ter a chance de recomeçar. 

Claro que nem todas as situações são assim tão precisas e cartesianas. Alguns amigos meus sequer perdem tempo tentando entender o erro e procurando falhas. Partem pra próxima da mesma maneira que partiram antes e antecipam tudo pra começar novamente. Não sentem tanta dor, muito menos remorso, pulam essa fase pra não perder o foco na próxima tentativa. Tento praticar essa ideia, mas ainda não consigo plenamente ter esse tipo de maturidade e preciso de um tempo. Já outros colegas demoram mais. Curtem a fossa do sofrimento, se punem repetidas vezes e navegam pela ideia de serem sofridos, de poder explicar seus erros nas dificuldades. Bom... desse tipo de pessoa eu já me orgulho de não ser mais. 

Ok, eu remoo, penso, penso novamente, mas tenho a plena convicção de que só tentando novamente posso aprender de verdade e evoluir. E é assim que estou. Do segundo pro terceiro dia. Quase pronto pra começar de novo. No final das contas o que importa são as tentativas, os bons combates. Os resultados nem sempre serão lembrados, mas sim o que se fez das tentativas. Então é importante prosseguir. O que mais me dói é ver que por vezes não notamos o simples, caímos na rotina da correria, da não atenção aos detalhes. E por me considerar uma pessoa detalhista, isso dói, frustra, mas tem prazo. E o prazo se encerrou. É hora de programar o reinício, de se dar a chance de tentar novamente e o momento de ver se confio mesmo em mim, na minha pessoa, no meu trabalho e em tudo que planejei até aqui.

A ideia de recomeçar sempre me pareceu desafiadora. Não temo começar de novo. Mas com o tempo noto que você vai tentando evitar alguns recomeços. Só que viver e não ter a noção de que não podemos controlar tudo e de que não vamos acertar tudo é estar completamente fadado ao fracasso. Pois bem, a questão é aceitar os erros, aprender com eles, deixar passar e começar novamente.

Pronto pra prosseguir? Talvez sim, talvez não. Só na próxima tentativa para saber um pouco mais. 

terça-feira, 2 de julho de 2013

Não sei

Entre meus amigos e pessoas de convívio sou tratado como uma pessoa muito crítica. 

Não me incomodo com isso, muito menos acredito que estejam exagerando. Claro que junto disso muitos brincam que sou ranzinza, que sou por muitas vezes intolerante e que poderia ver mais beleza nas coisas do dia a dia. Entendo muito bem quando me dizem isso. Mas o fato de entender não me induz a concordar com tudo. Adoro quando essas críticas vêm, pois sempre são uma chance de repensarmos um pouco, mesmo que continue discordando certas vezes de afirmações como essas. E o fato de muitas vezes discordar dessas colocações é pelo simples fato de que muitas das pessoas que me "criticam" quanto a minha maneira de ser questionador ou crítico, são pessoas que continuam por aí tentando ser o que sempre foram, tentando explicar suas vidas na vida dos outros. Dizendo que todo mundo é assim. E é justamente isso que me causa uma sensação de inconformismo. Não somos assim porque todos são! Eu pelo menos não quero ser.

Sempre gostei de observar as pessoas, de ver como agem, como falam, como se comportam e porque reagem de certas maneiras devido certa situação. E o tempo me levou a ser professor acredito que muito por isso: Pela incrível diversidade com que lidamos dia a dia. Ser professor e lidar com variados tipos de pessoas é o que me desafia. De me relacionar com tipos e mais tipos de pessoas, de aprender com coisas que não acredito, de ver crianças muitas vezes mais maduras que eu e em muitas vezes aprender a como não ser com pessoas que eu acreditava que me ensinariam como deveria ser.  

Observando isso tudo desde sempre e muito mais fortemente desde que me descobri professor e que comecei a lecionar, vejo que o que se prega na vida é algo muito mentiroso diversas vezes. Está implícito em todos que a cada ano que passa, a cada idade a mais que temos, estamos mais próximos de nossas certezas e que por estarmos mais velhos, temos de saber de tudo. Acho isso uma tremenda babaquice. Eu sabia muito mais coisas quando era criança. Tinha muito mais certezas convictas e a cada dia que passo tenho mais dúvidas, saudáveis dúvidas eu diria. Porque a cada dia que passo entendo melhor diferenças, percebo que somos muitos e cada vez mais únicos. E essa diferença toda me dá cada vez mais respostas como "depende", "não sei", "talvez". E não é isso que recebemos de estímulo. Somos impulsionados a saber de tudo a cada ano que passa e aí se você não se enquadra nesse mundo, você começa a mentir que sabe, fingir que entende de tudo, entende da vida e se diz maduro. E aí estão pessoas cheias de dúvidas cobertas de falsas seguranças.

A cada dia percebo que sou muito do que diz uma passagem da uma música do Legião (teatro dos vampiros, estou ouvindo ela agora) que diz: "Acho que não sei quem sou, só sei do que não gosto".

É assim que me sinto. A cada dia que passa eu sei mais do que não quero ser como pessoa. Tenho mais convicções de que não quero ter uma vidinha vendo televisão, ostentando ser alguém que parece ser "completamente feliz", realizado e maduro. Gosto de ser inconformado, de querer mais e de cada vez mais não saber quem sou. Isso não me desmerece, não me rebaixa e a cada dia me realiza, pois me dá a chance de me reinventar a cada dia.




Gosto dessa insegurança, gosto dessa sensação de vulnerabilidade e de não saber como vai ser enquanto ao mesmo tempo estou cheio de metas, objetivos pessoais e sonhos a realizar. Muitos tentam te fazer pensar que não saber como vai ser é ser alguém sem rumo e sem objetivos. Ledo engano. Não saber como vai ser é ter seus objetivos, suas metas, seus caminhos propostos, mas estar pronto para saber lidar com a imprecisão que é a vida, com a real e inexorável certeza de que as coisas não serão como desejamos. O futuro que vem logo ali não será como pensamos. E aí é importante estar pronto para recomeçar. E pensar assim não me impede de ter planos e metas, mas me deixam prontos para redefinir-me, replanejar-me, repaginar-me. E isso não se ensina na escola, não está na tv, muito menos nas conversas de família.

O que se vê por aí é um estímulo a ser "normal", encaixado nos padrões que não te faça correr "perigos", mas que pouco te faça viver descobertas. Por isso agradeço por ser ranzinza, incompleto, inconformado, intolerante, incapaz e outros tantos adjetivos que definam minha performance voltada ao imperfeito.

Confesso me preocupar com o futuro de meus sobrinhos, alunos e dos jovens em geral. Acredito no poder de transformação dos mais novos, mas temo pelo que se tem ensinado a eles. Fórmulas de sucesso de gente que se escondeu da vida a vida inteira. Queria que a nova geração viesse pra desestabilizar essas certezas de futuro que boa parte das pessoas falam. Tento criar essa realidade pelo menos no meu caminho. Para alguns sou apenas um amigo/conhecido/professor que "viaja", "perdido", que não sabe o que quer.. sem problemas. Tento não olhar pelo ponto de vista do que vão pensar, mas pelo ponto de vista do que estou fazendo. "Será que estou agindo como acredito?" Essa pergunta me ajuda a seguir um caminho melhor e que me satisfaça a cada dia que vivo. Ser justo consigo mesmo dá um alívio danado, sabia? Já perdi muito tempo da minha vida tentando ser o que achavam pra mim que eu poderia me tornar.

Hoje em dia sou apenas eu. Mesmo que ainda não saiba ao certo quem sou.




terça-feira, 18 de junho de 2013

Homem ou urso?


Com tudo que vem acontecendo, com o que ando passando de vida pessoal e o que ando vendo de acontecimentos com manifestações e protestos, confesso que se já era alguém que pensa em tudo muito rápido, agora as ideias vêm mais velozes ainda, a ponto de me deixarem confuso sobre o que priorizar em pensar e que ação tomar. Ando realmente com muitas dúvidas sobre tudo o que acontece dos protestos, por exemplo. Gostei de muita coisa, me empolguei com diversos acontecimentos, mas sou contra também outras questões e já passei da idade de achar errado ter dúvidas. Estou apenas levemente confuso, esperançoso de algumas mudanças, mas confuso vendo pessoas que nem sempre confiei declarando de peito aberto que vão mudar o Brasil.
Enfim... aproveitando a crise existencial, segue um texto de que me lembrei que mostra um pouco como devemos ter cuidado com o que nos dizem para fazer e com o que falam de nós. Desde cedo ouvindo muita coisa você acaba acreditando em tudo o que vê e ouve. E isso pode ser um pouco(ou muito) do que você é. Vale o texto como reflexão!
Era homem ou urso?


Era uma vez um urso que morava em sua floresta. Conhecia cada canto de seu habitat. Os rios, as árvores, os outros animais, tudo com os detalhes familiares a um morador antigo.
Todos os anos, durante o inverno rigoroso, o urso entrava na caverna e lá ficava até o verão. Hibernando, dormindo...
Durante o inverno o urso ficou dentro da caverna. Quando chegou o verão ele saiu ansioso para ver sua floresta. E algo diferente aconteceu nesse ano. Surpresa enorme teve nosso personagem quando percebeu que toda a floresta havia sido derrubada e no lugar dela havia uma indústria. O urso ficou assustadíssimo. Não acreditou no que estava vendo. Ele se beliscou várias vezes, achando que sonhava. De repente se aproxima dele um trabalhador e lhe pergunta:


  • O que o senhor está fazendo aí parado?
  • Eu? – retrucou o urso – Ora, não estou fazendo nada, estou apenas olhando.
  • Vá fazer a barba, tomar banho, trocar de roupa e começar a trabalhar – ordenou o funcionário.
  • Ora, deixe disso. Eu sou um urso. Não vou fazer a barba nem tomar banho, nem trocar de roupa muito menos trabalhar.
  • Eu não vou discutir com o senhor.
Imediatamente chamou o chefe da seção.
  • Ele está dizendo que é um urso.
  • Ora – disse o chefe – vamos parar de brincadeira. Vá fazer a barba, tomar banho, trocar de roupa e trabalhar.
  • Eu não vou fazer nada disso. Eu sou um urso. Urso não faz a barba, não toma banho, não troca de roupa e não trabalha.
  • Eu não vou discutir com o senhor. Vou levá-lo até o gerente da empresa.
Lá se foram o urso, o funcionário e o chefe ter com o gerente da empresa.
  • O que está acontecendo? – perguntou o gerente.
  • Esse camarada está dizendo que é um urso – respondeu o chefe
  • Estou dizendo não. Eu sou um urso. E não adianta querer me enganar
  • Vamos parar com essa brincadeira – disse o gerente
  • Vá fazer a barba , tomar banho, trocar de roupa e trabalhar
  • Não vou fazer a barba, nem tomar banho, nem trocar de roupa e trabalhar. Eu sou um urso.
  • Vamos levá-lo até o diretor.
  • E lá se foram, o urso, o funcionário, o chefe e o gerente.
  • Senhor diretor, – disse o gerente - temos um pequeno problema. Este nosso funcionário teima em afirmar que é um urso.
  • Pronto – disse o diretor. – Está resolvido. O senhor agora vá fazer a barba, tomar banho, trocar de roupa e trabalhar. E não se fala mais nisso. É uma ordem.
  • Ora essa, eu não recebo ordem de ninguém. Eu sou um urso. Não vou fazer a barba nem tomar banho, nem trocar de roupa, nem trabalhar.
Resolveram levá-lo ao vice-presidente da empresa, que já sabia do disque-disque na empresa e foi falando sem muita paciência:


  • Olha aqui, não tenho muito tempo a perder. Sou um homem bastante ocupado. Vá imediatamente fazer a barba, tomar banho, trocar de roupa e trabalhar ou eu vou demiti-lo.
  • Pode demitir! – disse o urso –  Eu não estou admitido. Eu sou um urso, um urso! Entenderam ou não?Eu não vou fazer a barba, não vou tomar banho, não vou trocar de roupa nem trabalhar.
  • Bem – disse o vice-presidente – vamos conversar com o presidente da empresa.
E lá se foram o urso, o funcionário, o chefe, o gerente, o diretor e o vice-presidente. Cada sala era maior que a outra, e o urso se espantava com o número de secretárias.
O presidente foi logo adiantando:
  • Seja bem-vindo, meu amigo urso!
  • Ora, eu nem estou acreditando – retrucou o urso.
  • Deixem-me a sós com ele.
E saíram todos, ficando apenas o urso e o presidente.
  • Vamos dar uma volta? – convidou o presidente.
  • Com muito prazer – respondeu o urso
E lá se foram, o presidente e o urso, ao jardim zoológico. Quando chegaram lá, viram logo uma jaula em que moravam alguns ursos. Perguntou o presidente ao urso que estava dentro da jaula:


  • Meu amigo urso, pode me tirar uma dúvida?
  • Com toda certeza – respondeu o urso de dentro da jaula.
  • Este que está aqui comigo – continuou o presidente, apontando para o urso que o acompanhava – é um homem ou um urso?
  • É um homem – afirmou o urso. – Se ele fosse urso estaria aqui, dentro da jaula.
O urso ficou espantado. O presidente continuava com aquele olhar confiante, astuto.


  • Vamos ao circo? – sugeriu o presidente.
  • Sim – respondeu o urso, cambaleante.
No circo a cena se repetiu. O presidente perguntou ao urso que estava no picadeiro se aquele que o acompanhava era homem ou urso, e sem deixar dúvidas respondeu o urso do picadeiro:


  • Ora, é um homem. Se ele fosse urso, estaria no picadeiro.
E um ursinho, um pouco atrevido, deu força:
  • O que ele precisa é fazer a barba, tomar banho, trocar de roupa e trabalhar – se não bastasse – vagabundo!
Urso ou homem, não se sabe muito bem, voltou com o presidente para a empresa. Fez a barba, tomou banho, trocou de roupa e começou a trabalhar. Trabalhou incansavelmente e sem muito tempo para pensar até que chegou novamente o inverno. Todos na indústria foram para suas casas, houve férias coletivas devido ao frio rigoroso. E ele, nosso personagem central, iria para onde?
Ele andou de um lado a outro, passou perto da caverna e resolveu que não poderia entrar. Tinha feito a barba, tomado banho, trocado de roupa e trabalhado. Não era urso certamente.
Depois de muito resistir, entrou na caverna. Deitou-se, fechou os olhos, coçou a barriga, dormiu... e sonhou que era urso.


Era homem ou urso?

Era urso. Era urso que foi convencido a ser algo que não era, que resistiu até onde pôde para não se deixar levar pela conversa de estranhos. Enquanto gritaram com ele, enquanto o obrigaram a acreditar em algo que não acreditava, ele resistiu. Mas, diante da sutileza do presidente, ele se convenceu, não resistiu à pressão externa, à publicidade, à propaganda, e acabou se convencendo de algo que, na verdade, não era.
Essa parábola demonstra perfeitamente meu conceito de escravidão. E ilustra bem casos como o do professor que manda o pequeno aluno rasgar a folha de papel e começar o desenho de novo porque ele pintou o sapo de vermelho e, de acordo com esse professor, não existe sapo vermelho. É a educação que escraviza, que forma bons repetidores de conteúdo e maus pensadores, maus construtores de histórias próprias.”
* Trecho retirado do livro “Educação-A solução está no afeto” Gabriel Chalita

sábado, 15 de junho de 2013

Corre que eles estão chegando!

Não sei se algum de vocês já fizeram isto que vou falar, mas eu já fiz isso muito e não me orgulho disso.


Sabe quando você vai receber uma visita em casa? Algum amigo antigo, distante, familiar que mora em outro estado, país ou alguém que você preza, considera importante e que não tem muito convívio diário com você? Pois bem... passava por essa situação algumas vezes. E o que fazia? Dentro do meu quarto bagunçado, com roupas jogadas em cima da cama, estante empoeirada e cd´s jogados no canto, meu banheiro sem sabonete novo e roupas pra lavar espalhadas e sala com um pouco de tudo que uso diariamente espalhado e "compartimentado" em diversos lugares, o que fazia? Em alguns minutos juntava tudo o que considerava "bagunça", abria as portas de armários e colocava tudo dentro. Passava aquele pano úmido ou com um produto pra dar uma leve lustrada nos móveis, um pano no chão pra dar um brilho melhor, arejava bem a casa e quando terminava, olhava orgulhoso e me perguntava: 

Por que não deixo tudo sempre assim?

Ao mesmo tempo que gostava da imagem que tinha da minha "nova casa", sabia que por dentro dos armários os objetos estavam lá: desorganizados, amontoados para que a parte de fora, visível aos olhos do ilustre visitante estivesse impecável ou bem próximo do "organizado". Quando pensava sobre isso, me questionava e tinha uma certeira conclusão: O problema não estava no interior dos armários, debaixo da cama ou o que foi varrido pra debaixo do tapete. O problema estava dentro de mim. Nas minhas ações cotidianas que precisavam de um pouco mais de organização. 

Bom... essa introdução toda foi feita, pois tenho me lembrado dessa história/situação diariamente. Para quem não sabe moro em Brasília há muitos anos. E o que tenho visto nos últimos dias no DF tem me chamado muito a atenção. Brasília tem se voltado para o término da construção do novo estádio orçado (por baixo) em um bilhão e meio de reais. Quem me conhece sabe o quanto gosto de esporte e o quanto acho legal ter uma possibilidade de sediarmos competições de alto nível e o impacto que isso pode causar nas próximas gerações. Mas a pergunta que faço é: A que preço devemos nos sujeitar para realizar competições como essa? A que custo e sob que condições? Pois quando penso nisso, confesso que fico extremamente inconformado com o caminho que os governantes, políticos e pessoas envolvidas nessa "organização" tomaram.


Acreditem em mim... Brasília está sendo maquiada. Quem passa próximo ao centro de Brasília todos os dias como eu, deve estar vendo. Às pressas, paredes são pintadas para apagarem as pichações. Placas são levantadas de uma dia pro outro, com base de sustentações metálicas que não faziam parte do cenário de quem por ali passava. E a cada dia que por ali passo, lembro do Rodrigo que arrumava as coisas em cima da hora. Que ao mesmo tempo que se orgulhava de deixar tudo um "brinco" antes da visita chegar, se envergonhava consigo mesmo de não ser tão organizado como tentava demonstrar.

Mas o que temos aqui são questões como: Projeto veículo leve sobre trilhos abandonado e com obras inacabadas infernizando a vida dos moradores há anos, metrô que só atende a um lado da cidade, ciclovia de qualidade duvidosa feito às pressas que é confundida com passarela de pedestres, ônibus no DF de qualidade extremamente duvidosa e com preço salgado, e o entorno não recebendo a atenção que merece. Claro, isso sem falar no nível de violência aumentando, sequestros relâmpagos e o consumo de crack acontecendo bem no centro do DF. Mas podem ter certeza, isso tudo será maquiado nos próximos dias e tudo será uma beleza.

Veja essa notícia antiga aqui. É de Brasília que eles estão falando?

E aí pergunto novamente: Nos orgulhamos de deixarmos "tudo pronto" para a "grande festa", ou repensamos nossa condição de "donos de casa"? Será que haverá algum tipo de reflexão?

O legado dos mega eventos não estão acontecendo para os Brasilienses. Os moradores que fazem a cidade acontecer diariamente não estão levando vantagem alguma e sendo beneficiados por nenhuma reformulação estrutural da cidade. Pelo contrário. O que existe na cidade são obras inacabadas, locais proibidos de entrar e uma "corrente" que prega o orgulho de receber um mega evento como esse. Os voluntários que ajudam no aeroporto, arredores do estádio e em locais estratégicos espalhados pela cidade não vão estar lá pro resto da vida. Confesso que não lembrei dessa minha história da casa bagunçada pela questão do arrumar em cima da hora. Todo esse acontecimento pré Copa das Confederações me fez lembrar dessa história pela pior parte. Pela sensação de vergonha interna. VERGONHA de saber de que nada disso que está sendo feito é para nós. Que a beleza externa esconde "armários bagunçados, tapetes que acomodam poeria debaixo de onde são colocados e que o brilho que reluz nos móveis da cidade", representam apenas um pano com algum produto milagroso que lustra rápido, deixa um cheiro bom, mas que dura apenas alguns dias. Vejo que a oportunidade de sediar um mega evento não nos ensinou que chance de mudarmos efetivamente de hábito, estava ali na nossa frente. E deixamos ela escorrer pelas nossas mãos. Deixamos escapar para trabalharmos a barganha e propaganda política, por "preguiça" de sermos organizados e principalmente por saber que nosso convidado ilustre ficará apenas por alguns dias. 

Para alguns, está tudo bem, tudo certo!

Repetimos o jeitão do brasileiro preguiçoso, malandro,  que sempre se dá bem, que é querido, esperto e sempre dá um jeitinho de conseguir as coisas, mas que no fundo é alguém inconsequente, que vive cada dia de uma vez sem se planejar, sem pensar que seu jeito de ser pode influenciar negativamente o costume dos mais novos que estão à sua volta. Perdemos a chance de dar exemplo e não acredito que para a Copa de 2014 a mentalidade mude. Isso não me impede de torcer para que a competição seja um sucesso, que não tenhamos problemas de violência e que tudo possa correr bem e ainda torcer pelo título da seleção brasileira. Ser crítico não é ser contra tudo, como muitos tentam direcionar para se defender. Na minha visão é o contrário. Ser crítico como estou tentando e me esforçando para ser é mostrar que acima de qualquer evento, amo a cidade que vivo e quero o bem dela.

Um bom exemplo de como tentam perverter a imagem de quem é crítico aos bastidores da copa está nesta propaganda que vi uma vez e que sinceramente sinto muita, mas muita vergonha de ver novamente.




E olhando a correria que foi essa última semana, com polícia se preparando para o evento e equipes de limpeza "varrendo a sujeira" da cidade para um "ralo" mais próximo, me dá a entender que daqui alguns dias voltaremos a ser como éramos. Com problemas estruturais, com hospitais incapazes de atender a demanda do dia a dia, com a educação pública ineficiente, mas com  a promessa de ações sempre paliativas como o eterno aumento de faixas nas principais estradas de circulação na cidade, por exemplo, acreditando que isso resolverá o problemas o trânsito que tende a parar nos próximos anos. Todas essas ações e soluções, muito mais baseadas em senso comum do que em estudos e preocupados com o avanço sólido e eficaz da cidade são o que temos para nós. Certos ou não é o que estão fazendo, mostrando que somos capazes de enfrentar qualquer desafio, mostrando um incrível orgulho brasileiro de poder bater no peito e falar: "Sediamos a copa!"


Ainda acredito que podemos ser muito mais que isso.





segunda-feira, 22 de abril de 2013

Quem é você?

Você tem feito a mesma coisa há muito tempo? Você tem agido da mesma maneira, sentido as mesmas coisas com bastante frequência? Tome cuidado, talvez você esteja profundamente mergulhado numa espécie de rotina e acomodação pessoal, social e afetiva que te dá a sensação de fazer sentido, mas que pode, por algum motivo, estar te fazendo apenas sobreviver ao mundo em que vivemos. 

Depois de muitas vivências e descobertas, esse ano eu me preparei para fazer coisas diferentes. Coisas que acreditava não ter a ver comigo, situações em que eu recusaria convites e tenho tentado perceber quantas vezes tenho respostas prontas para tudo. E isso tem feito uma diferença enorme em muitas questões da minha vida. Desde a maneira sobre como penso as situações, até em como me relaciono com as pessoas à minha volta. De uma coisa tenho certeza: Só estou vivendo isso, pela história de vida que construí, com meus erros e acertos. Por isso, não quero em momento algum parecer que estou descobrindo a vida de verdade agora. Pelo contrário, ela só tem esse sentido pra mim agora porque tudo o que foi vivido me levou a enxergar a vida dessa forma. Portanto.. nada de parecer que o que se faz agora é o melhor de tudo e de todos os níveis. Vivo agora o que construí e aprendi durante todos esses anos. 

Espero vir aqui compartilhar um pouco disso em breve. Continuo com um inexplicável desgaste em vir postar e escrever sobre coisas que considero interessantes. Já estou de olho nisso pra que não se torne uma ação "da mesma maneira" como citei no início do texto.






sábado, 16 de fevereiro de 2013

Menos 60 minutos


Pronto, acabou de acabar. São 23 horas já com o atraso de 60 minutos.
A partir deste momento uma caralhada de gente vai soltar: "Ufa! Até que enfim o horário de verão acabou!"
Vão falar que enfim recuperaram seus horários de sono, que dá pra reorganizar agora seu relógio biológico, que o fotoperíodo do caralho a quatro vai diminuir...enfim... sempre esses comentários de um lado. 

Escrever o quê?

Do outro..estou eu e mais alguns. Alguns tantos que preferem acordar com o não claro do que com sol na cara. Os que curtem ver chegar as 18 horas, olhar o sol ainda na janela e pensar em fazer algo interessante(ir a praia pra quem tá no litoral) naquele mesmo dia. Alguns que sentem que este horário te faz bem, te dá mais energia, te dá a sensação de aproveitar melhor a vida. Eu pelo menos tenho esse horário muito marcado pela lembrança das minhas férias, de uma vida mais agitada. Pode ser que seja apenas uma mera lamentação de alguém com síndrome de Peter Pan e que não tem filhos, e por isso não saiba o sufoco que é levantar a meninada da cama. 

Pode ser um monte de outras coisas. Eu entendo, existe opinião e gosto pra tudo. E eu hoje em dia aceito tranquilamente. Só o que me emputece é aquela galera que paga de "normal", como se quem gostasse de horário de verão fosse um vagabundo, que não leva a vida a sério ou que seja um desajustado. É uma galera que vive de máximas. É um mesmo tipo de pessoal que fala do pôr do sol de Brasília como se fosse o único no mundo diferenciado de tudo. Eu acho muito maneiro o pôr do sol daqui e você? Mas adoraria conhecer de outros lugares. Sou um pecador por dizer isso? Nós, que moramos em Brasília, somos os "escolhidos", é isso? 

"Não tenho mar, mas tenho o pôr do Sol de Brasília."
Ouço isso e tenho de ficar calado. Parece que só pode existir um dos dois. Tranquilo.


Eles estão "certos" porque vivem no horário "certo" 8 meses e eu 4? Não penso assim. Eu sinceramente lamento mesmo. Quando acaba o horário de verão fico até meio deprê. Hoje fiz o que na maioria das vezes faço quando é o último dia do horário.Vou pra rua, tento curtir o dia de uma forma que eu possa me despedir do sol naquela hora. Dou um até logo e marco um reencontro para outubro. Como fiz minha vida inteira com meus amigos do Rio quando vinha pra Brasília voltar a rotina de estudos.

Eu lamento pra caramba o fim desse horário. E sei que outros tantos se aliviam. Só não me venha com esse papo de que voltou ao normal da vida.  O normal é muito relativo. Agora mesmo o meu normal acaba de se tornar anormal e levará 8 meses para se reencontrar com o que digo ser o certo, o normal.

Fiquem felizes por aí que eu me organizo pelos próximos meses daqui. Cada um acredita na sua verdade e eu acredito na minha que o bom mesmo seria se fossem 3 horas a mais. Poder em outubro, novembro e dezembro ver o sol nascer no meu horário de lanche no trabalho as 9h e em janeiro poder dar um mergulho no mar com aquele sol maneiro se pondo lá pelas 21h.

Cada um com sua opinião. Segue a vida.

domingo, 10 de fevereiro de 2013

Férias e Carnaval sem Rio.





Uma das grandes paixões da minha vida sempre foi o samba. Como um bom carioca deve ser, sou completamente apaixonado por samba e cresci me acostumando a passar o ano inteiro em Brasília estudando para no fim do ano poder curtir de 2 a 3 meses de férias, Rio e samba. Essa era minha vida e em um momento eu achei que seria assim pra sempre. E o momento ápice do samba sempre foi o carnaval. Quantas e quantas vezes voltei para Brasília com o choro engasgado na garganta e pensando se era mesmo a vida que eu queria levar. 

Portanto o carnaval sempre teve um valor na minha vida. É da minha criação aproveitar o carnaval. Não era daqueles que tirava a época do carnaval pra "me acabar". Apenas curtia o que deveria ser curtido. O Rio de Janeiro sempre teve esse papel na minha vida de recarregar minhas energias, me mostrar de onde vim, quem sou e recuperar as forças para continuar seguindo firme e com propósito. Era o sinal de que o tempo de descanso estava acabando e que precisava recomeçar minha vida e meus sonhos na cidade sem praia. Assim foi por muito tempo. Me recordo que a primeira vez que não passei um carnaval no Rio foi com 15 anos e eu simplesmente flertei pela primeira vez na vida com a sensação de depressão. Aqui em Brasília já é difícil ficar durante o ano, imagina então no carnaval. 

Hoje em dia, nos meus últimos 8 anos acostumei-me com a possibilidade remota de passar o carnaval no Rio, devido ao trabalho e devido à idade e responsabilidades que se assume com o tempo. Nos últimos 3 anos passei aqui e simplesmente me trancafiei em casa. Quando via ou ouvia algo sobre os desfiles de escola de samba ou algo assim, batia uma tristeza complicada de explicar. Uma nostalgia misturada com desânimo e uma intolerância com qualquer demonstração de felicidade de qualquer pessoa na época de carnaval em Brasília.



Mas não escrevo isso para registrar aqui minha história de vida. Escrevo para mostrar como somos passíveis de mudança. Este ano dentro da minha programação já estava a ideia de não viajar, de utilizar o carnaval para descanso e para reciclagem de ideias. E cá estou eu: aparentando pela primeira vez na minha vida estar tranquilo, feliz pela cidade estar vazia, podendo ser melhor aproveitada e tentando consumir essas horas de tranquilidade para projetar melhor o ano de 2013 que promete muitos acontecimentos. 

É bem complicado ficar mais de um ano sem viver essa cena.


Apesar da saudade absurda de viver o que sempre vivi nessa época, é impressionante como somos capazes de mudar. Esse lance de ficar mais velho nos faz ter uma capacidade melhor de olhar sob diversos pontos de vista, pesar situações e tomar decisões. Enquanto escrevo sei que começaram os desfiles, sinto falta da praia, do ambiente do Rio, das pessoas e como elas se comportam, de viver uma vida mais intensa e despreocupada e sinto falta da família que vive lá. Chego a quase balançar como antigamente, mas aí vem aquela dita "maturidade" que me mostra outros caminhos, possibilidades e que sofrer e se chatear não vale a pena. Só vale a pena viver a vida acreditando que o melhor é o agora. 

Então vamos nessa. Aos poucos vou me soltando por aqui e contando minhas teorias sobre a vida. 

As ideias têm vindo com força. Só falta me programar pra postar mais.


segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Começando a escrever



A primeira vez que tive vontade de escrever de maneira espontânea foi por volta dos 12 anos. Eu começara a sentir vontade de deixar registrado em algum lugar meus pensamentos e minhas dúvidas sobre tudo o que vivia. Na escola era obrigado a ter um diário para treinar a escrita e eu desde cedo sempre quis ser do contra. Fazia de uma má vontade incrível, pois segundo minha visão não seria um espaço privativo, já que a professora leria alguns dias nossas produções e eu perderia a minha privacidade na escrita. Não queria descrever como foi meu dia, queria escrever sobre o que pensava das pessoas, da minha vontade recorrente de morar no Rio de Janeiro, queria falar de como era puto com "decorebas" na escola e por quantas meninas eu era apaixonado e queria me declarar.  Enfim, perdi uma grande oportunidade desde aquela época. 

Por volta dos 18 anos comecei a escrever algumas notas antes de viver momentos importantes. Antes de me declarar para alguma "paixonite", antes de prestar vestibular e sempre que voltava de férias do Rio para Brasília. A partir dos 20 anos os escritos aumentaram. Com um turbilhão de informações em meio à entrada no campo profissional, escrevia sobre os sonhos na carreira, as dúvidas entre namorar e comprar uma bicicleta e questionava as relações, os comportamentos das pessoas em geral.

Aos 25, após ler uma série de blogs de outras pessoas que relatavam seus inconformismos com a vida e  dividiam seus pensamentos soltos, montei um blog. Escrevia e não divulgava a ninguém. Queria apenas testar  como era escrever de forma descompromissada e arquivar aquilo em memórias. Um ano mais tarde comecei a escrever para as pessoas lerem. Era uma escrita de um personagem que tinha muito de mim. Fazia uma escrita ranzinza, intolerante com muita coisa. A escrita era muitas vezes ácida e os palavrões preenchiam as minhas revoltas com muita coisa que não concordava do dia a dia. Me divertia com as produções.

Mas com o tempo perdi o tesão de escrever assim. Me incomodei por ser um personagem do que eu, notei que estava preso num estilo de escrita e eu mesmo já havia mudado como pessoa em muita coisa do que havia escrito. Dei um tempo, tentei voltar, mas já não era a mesma coisa. E como a escrita pra minha pessoa sempre foi uma questão de buscar prazer e ser espontâneo, deixei a vontade de voltar a escrever me contaminar até que chegou o momento de criar esse espaço para me reinventar.

Não sou escritor, não domino completamente as boas regras da língua portuguesa e não tenho a intenção de fazer as melhores e mais sensatas avaliações sobre a vida. Quero apenas escrever sobre o que penso de muita coisa que vejo. Hoje, beirando os 34 anos, sinto aquela vontade dos meus 12 anos de deixar meus registros, de questionar as situações do dia a dia e de por à prova o que acredito com o que vivo.

Existe uma frase que eu gosto bastante de Immanuel Kant que diz: "Avalia-se a inteligência de um indivíduo pela quantidade de incertezas que ele é capaz de suportar."

Quero desafiar minha inteligência por aqui e dividir as incertezas, que antes me incomodavam e que hoje me dão a confirmação de que são elas que me motivam a tentar ser melhor.

É mais um início, mais um ciclo, mais um desafio, mais uma incerteza sendo criada.

Quero ver o quanto suportarei essa e por quanto tempo. Valendo a partir de agora...


RL