domingo, 16 de fevereiro de 2014

A arte de sabotar-se

 Eu tinha por volta de 20 anos quando ouvi o termo "autossabotagem" pela primeira vez. Era uma grande amiga que era muito próximo na época (acredito realmente que não precisamos estar próximo de nossos amigos o tempo todo) que acabara de me contar. Ela era meio que uma amiga íntima e eu confidenciava a ela naquele momento que estava afim de uma amiga em comum e que não sabia como fazer para me aproximar ou ir busca da consumação do fato. Ela então me trouxe o termo e disse que eu era do tipo de pessoa que se sabotava. Desde então eu passei a quase que estudar o termo, tamanho o interesse que me levou ao tema. Até o meu trabalho foi diretamente impactado(e é até hoje) quando comecei a olhar a vida pela ótica da autossabotagem. O que me seguiu dali em diante foi de infelizmente concordar com minha amiga de que eu me sabotava em diversas áreas. E descobrir isso foi muito bom, pois até hoje isso é algo que me chama atenção, salta aos meus olhos e tento ficar sempre atento se não estou perto de cair na tentação gostosa de dar uma explicação qualquer a si mesmo para não viver algo que você, lá dentro de si, sabe que pode ser importante para você, mas que por alguma variável ou circunstância, acredita que pode dar errado ou te expor de uma maneira negativa. 

Eu me vejo fazendo isso muitas vezes e luto contra isso. Uma vez de clássica comprovação da teoria comigo mesmo foi uns 3 anos depois de eu ficar sabendo desta teoria. Precisava tomar uma decisão importante e pensava no valor de arriscar-me e ir atrás do que queria, mas por outro eu fazia uma espécie de "previsão do tempo"(e quem disse que previsão do tempo sempre acerta?) tentando "prospectar" como seria o futuro daquela situação numa série de possibilidades que se, ficassem apenas no campo da imaginação e prospecto, jamais teriam a chance de serem vividas.

E ao fazer isso de maneira profunda, comecei a lembrar-me de minha amiga e comecei a traçar um paralelo com diversas situações em que tive dúvidas do caminho a seguir e a perceber que autossabotar-se é uma ação, que se não bem vigiada, torna-se comum. 

Em um desses dias de pensamentos soltos e ao mesmo tempo presos num mergulho em algo que ainda concretamente não existia. Passei uma madrugada acordado, ansioso, sem conseguir dormir, como estou agora, e só consegui relaxar quando praticamente "cuspi" esse texto aqui. Na época, gostei tanto dele que repassei a alguns amigos. Alguns desses amigos pediram pra passar a outros colegas e aí já viu. Ele rodou a internet e deve estar solto por aí em alguns sites "sem dono". Hoje posto ele aqui pra lembrar que não devemos nos sabotar. Não há ganhos com esse tipo de atitude. E pior, ele pode lá na frente te dar a sensação de você sentir falta das coisas que não viveu quando se decidiu pelo processo de evitar correr atrás do que acredita.


A ARTE DE SABOTAR-SE

Os vilões das histórias sabem o seu valor.
Planejar o erro alheio, fazer com que não aconteça.
Evitar algo que pode ser importante para o outro.
Os seres humanos sabem fazer como ninguém.
Sabotar o próprio momento, deixar de fazer acontecer.
E tirar de si a responsabilidade de viver algo diferente.
É justamente o diferente do usual que nos assusta.
O medo de sair do padrão.
Da estabilidade seja emocional ou outra qualquer que fora criada.
Faz com que tracemos o plano de fuga.
O plano da segurança que nos conforta.
Que evita o tal sofrimento que nem veio.
Mas que aprisiona a tal descoberta que não se liberta.
Essa é uma arte consciente em poucos, inconsciente para muitos.
Tira de nós a incrível capacidade de sermos intensos.
E dá a nossa mente a difícil tarefa de assumir nossos atos.
Ser forte não tem nada a ver com negligenciar o sentimento.
Ser maduro não tem nada a ver com atuar de forma omissa.
Suportar não tem nada a ver com adiar a própria entrega.
Fugir é mais fácil, mas acorrenta a alma.
Tentar é livrar-se de seus medos, mas é inseguro.
Viver é arriscar-se a morrer, mas nos realiza.

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Viajar é preciso.


Existe uma passagem sobre viajar, de Amyr Klink (empreendedor em expedições marítimas e escritor) que eu gosto muito. Ela diz o seguinte:


“Um homem precisa viajar. Por sua conta, não por meio de histórias, imagens, livros ou TV. Precisa viajar por si, com seus olhos e pés, para entender o que é seu. Para um dia plantar as suas próprias árvores e dar-lhes valor. Conhecer o frio para desfrutar o calor. E o oposto. Sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o próprio teto. Um homem precisa viajar para lugares que não conhece para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como o imaginamos, e não simplesmente como é ou pode ser. Que nos faz professores e doutores do que não vimos, quando deveríamos ser alunos, e simplesmente ir ver”


Pôr do Sol na praia de Ipanema. 

Eu sempre adorei viajar, mas olhando pra trás percebo que conheci pra valer poucos lugares. Passei boa parte da minha vida apenas viajando para o Rio de Janeiro para matar saudade da família e da cidade. E outra parte dela passei viajando em competições, o que me proporcionou uma maior diversidade, mas que como toda viagem de competição, não me deram a chance de conhecer tanto assim as cidades.

Pois bem, em um fim de ano onde tinha a certeza de que precisava me distanciar de Brasília pra pensar melhor em tudo, passei um mês fora. Fiquei três semanas no Rio de Janeiro, repensando muita coisa e mais uma semana em Maceió, cidade na qual já tinha viajado em competição, mas que precisava conhecer de melhor maneira. Uma certeza apenas eu tinha antes de partir, queria praia, despreocupação com horário e libertar-me das minhas cobranças diárias pessoais.

E aí concordo com a frase de Amyr Klink. E olha que não desbravei nada demais, fiquei em um lugar que conheço bem e que cada vez que viajo pra lá, mais reflexivo fico sobre o que é o bom da vida (tema de futuro post) e  uma outra semana conhecendo praias e pessoas novas.

O resumo disso tudo é que precisamos nos "desequilibrarmos" mais. Sair do conforto, do que já conhecemos e aprender algo mais. Foi um mês de praia, que é algo que faz um diferença notável na minha vida, mas acima de tudo um mês fora do equilíbrio, do normal, do de costume e do que já se está acostumado a viver. Isso me faz repensar quem sou, o porquê de ter me tornado quem sou e como sou fruto das minhas experiências passadas e escolhas pessoais.

E a conclusão disso tudo é: Quero mais! Quero viver mais experiências, quero aprender mais de um pouco sobre tudo. Mas ao mesmo tempo, quero fazer melhor o que faço. Quero cada dia me orgulhar do que escolhi pra viver. Quero aproveitar melhor as pessoas que estão à minha volta e não me fechar para as outras que irei conhecer. Quero deixar a porta aberta e transitar entre diversas culturas, mais leve, menos crítico e me emputecendo menos com o que vejo de diferente do que acredito. 

Pôr do Sol na Praia de Ipioca - Maceió
Quero viajar mais, conhecer novos lugares e fazer do lugar onde vivo, um lugar de reconforto, mas que não me acomode, que possa continuar sendo minha casa onde vou continuar me desenvolvendo e onde irei continuar me preparando para partir quantas vezes mais puder. Viajar faz bem. 

Depois de um ano onde flertei seriamente com o burnout, vejo que sou mais do que no dia a dia nos fazem acreditar que somos. E ser mais me leva a saber que sou pouco no meio de tanta coisa que existe. E quando percebo que sou só um pouquinho no meio de tanta coisa, me tranquilizo mais, paro de pensar nas cobranças de que estamos falhando que nos fazem acreditar e penso que por ser pouco no meio de tanto, sou mais um, com meus sonhos, minhas metas, minhas manias e características próprias. Nada demais, nada de menos.

Há muito tempo não viajava assim pra me libertar de tudo e começar de novo. Nos últimos tempos sempre viajei já contando os dias e o que tinha de fazer quando voltar. E se desligar dessa maneira faz bem. Posso dizer que te deixa pronto pra se dedicar ao que acredita que deve fazer. E é assim que me sinto agora. Pronto!
Pronto pro reinício, pra não acreditar que a dúvida é erro ou sofrimento e pronto para entender que minhas limitações são na verdade possibilidades. Chances reais de aprender, janelas de aprendizagem. E é assim que tenho tentado encarar tudo. Como uma possibilidade de aprender mais.

E por estar pronto é hora de recomeçar.

Se pudesse recomendar algo, diria isso. Cuide-se. Cuide de si.

É hora de voltar com tudo.

Até a próxima.