terça-feira, 18 de junho de 2013

Homem ou urso?


Com tudo que vem acontecendo, com o que ando passando de vida pessoal e o que ando vendo de acontecimentos com manifestações e protestos, confesso que se já era alguém que pensa em tudo muito rápido, agora as ideias vêm mais velozes ainda, a ponto de me deixarem confuso sobre o que priorizar em pensar e que ação tomar. Ando realmente com muitas dúvidas sobre tudo o que acontece dos protestos, por exemplo. Gostei de muita coisa, me empolguei com diversos acontecimentos, mas sou contra também outras questões e já passei da idade de achar errado ter dúvidas. Estou apenas levemente confuso, esperançoso de algumas mudanças, mas confuso vendo pessoas que nem sempre confiei declarando de peito aberto que vão mudar o Brasil.
Enfim... aproveitando a crise existencial, segue um texto de que me lembrei que mostra um pouco como devemos ter cuidado com o que nos dizem para fazer e com o que falam de nós. Desde cedo ouvindo muita coisa você acaba acreditando em tudo o que vê e ouve. E isso pode ser um pouco(ou muito) do que você é. Vale o texto como reflexão!
Era homem ou urso?


Era uma vez um urso que morava em sua floresta. Conhecia cada canto de seu habitat. Os rios, as árvores, os outros animais, tudo com os detalhes familiares a um morador antigo.
Todos os anos, durante o inverno rigoroso, o urso entrava na caverna e lá ficava até o verão. Hibernando, dormindo...
Durante o inverno o urso ficou dentro da caverna. Quando chegou o verão ele saiu ansioso para ver sua floresta. E algo diferente aconteceu nesse ano. Surpresa enorme teve nosso personagem quando percebeu que toda a floresta havia sido derrubada e no lugar dela havia uma indústria. O urso ficou assustadíssimo. Não acreditou no que estava vendo. Ele se beliscou várias vezes, achando que sonhava. De repente se aproxima dele um trabalhador e lhe pergunta:


  • O que o senhor está fazendo aí parado?
  • Eu? – retrucou o urso – Ora, não estou fazendo nada, estou apenas olhando.
  • Vá fazer a barba, tomar banho, trocar de roupa e começar a trabalhar – ordenou o funcionário.
  • Ora, deixe disso. Eu sou um urso. Não vou fazer a barba nem tomar banho, nem trocar de roupa muito menos trabalhar.
  • Eu não vou discutir com o senhor.
Imediatamente chamou o chefe da seção.
  • Ele está dizendo que é um urso.
  • Ora – disse o chefe – vamos parar de brincadeira. Vá fazer a barba, tomar banho, trocar de roupa e trabalhar.
  • Eu não vou fazer nada disso. Eu sou um urso. Urso não faz a barba, não toma banho, não troca de roupa e não trabalha.
  • Eu não vou discutir com o senhor. Vou levá-lo até o gerente da empresa.
Lá se foram o urso, o funcionário e o chefe ter com o gerente da empresa.
  • O que está acontecendo? – perguntou o gerente.
  • Esse camarada está dizendo que é um urso – respondeu o chefe
  • Estou dizendo não. Eu sou um urso. E não adianta querer me enganar
  • Vamos parar com essa brincadeira – disse o gerente
  • Vá fazer a barba , tomar banho, trocar de roupa e trabalhar
  • Não vou fazer a barba, nem tomar banho, nem trocar de roupa e trabalhar. Eu sou um urso.
  • Vamos levá-lo até o diretor.
  • E lá se foram, o urso, o funcionário, o chefe e o gerente.
  • Senhor diretor, – disse o gerente - temos um pequeno problema. Este nosso funcionário teima em afirmar que é um urso.
  • Pronto – disse o diretor. – Está resolvido. O senhor agora vá fazer a barba, tomar banho, trocar de roupa e trabalhar. E não se fala mais nisso. É uma ordem.
  • Ora essa, eu não recebo ordem de ninguém. Eu sou um urso. Não vou fazer a barba nem tomar banho, nem trocar de roupa, nem trabalhar.
Resolveram levá-lo ao vice-presidente da empresa, que já sabia do disque-disque na empresa e foi falando sem muita paciência:


  • Olha aqui, não tenho muito tempo a perder. Sou um homem bastante ocupado. Vá imediatamente fazer a barba, tomar banho, trocar de roupa e trabalhar ou eu vou demiti-lo.
  • Pode demitir! – disse o urso –  Eu não estou admitido. Eu sou um urso, um urso! Entenderam ou não?Eu não vou fazer a barba, não vou tomar banho, não vou trocar de roupa nem trabalhar.
  • Bem – disse o vice-presidente – vamos conversar com o presidente da empresa.
E lá se foram o urso, o funcionário, o chefe, o gerente, o diretor e o vice-presidente. Cada sala era maior que a outra, e o urso se espantava com o número de secretárias.
O presidente foi logo adiantando:
  • Seja bem-vindo, meu amigo urso!
  • Ora, eu nem estou acreditando – retrucou o urso.
  • Deixem-me a sós com ele.
E saíram todos, ficando apenas o urso e o presidente.
  • Vamos dar uma volta? – convidou o presidente.
  • Com muito prazer – respondeu o urso
E lá se foram, o presidente e o urso, ao jardim zoológico. Quando chegaram lá, viram logo uma jaula em que moravam alguns ursos. Perguntou o presidente ao urso que estava dentro da jaula:


  • Meu amigo urso, pode me tirar uma dúvida?
  • Com toda certeza – respondeu o urso de dentro da jaula.
  • Este que está aqui comigo – continuou o presidente, apontando para o urso que o acompanhava – é um homem ou um urso?
  • É um homem – afirmou o urso. – Se ele fosse urso estaria aqui, dentro da jaula.
O urso ficou espantado. O presidente continuava com aquele olhar confiante, astuto.


  • Vamos ao circo? – sugeriu o presidente.
  • Sim – respondeu o urso, cambaleante.
No circo a cena se repetiu. O presidente perguntou ao urso que estava no picadeiro se aquele que o acompanhava era homem ou urso, e sem deixar dúvidas respondeu o urso do picadeiro:


  • Ora, é um homem. Se ele fosse urso, estaria no picadeiro.
E um ursinho, um pouco atrevido, deu força:
  • O que ele precisa é fazer a barba, tomar banho, trocar de roupa e trabalhar – se não bastasse – vagabundo!
Urso ou homem, não se sabe muito bem, voltou com o presidente para a empresa. Fez a barba, tomou banho, trocou de roupa e começou a trabalhar. Trabalhou incansavelmente e sem muito tempo para pensar até que chegou novamente o inverno. Todos na indústria foram para suas casas, houve férias coletivas devido ao frio rigoroso. E ele, nosso personagem central, iria para onde?
Ele andou de um lado a outro, passou perto da caverna e resolveu que não poderia entrar. Tinha feito a barba, tomado banho, trocado de roupa e trabalhado. Não era urso certamente.
Depois de muito resistir, entrou na caverna. Deitou-se, fechou os olhos, coçou a barriga, dormiu... e sonhou que era urso.


Era homem ou urso?

Era urso. Era urso que foi convencido a ser algo que não era, que resistiu até onde pôde para não se deixar levar pela conversa de estranhos. Enquanto gritaram com ele, enquanto o obrigaram a acreditar em algo que não acreditava, ele resistiu. Mas, diante da sutileza do presidente, ele se convenceu, não resistiu à pressão externa, à publicidade, à propaganda, e acabou se convencendo de algo que, na verdade, não era.
Essa parábola demonstra perfeitamente meu conceito de escravidão. E ilustra bem casos como o do professor que manda o pequeno aluno rasgar a folha de papel e começar o desenho de novo porque ele pintou o sapo de vermelho e, de acordo com esse professor, não existe sapo vermelho. É a educação que escraviza, que forma bons repetidores de conteúdo e maus pensadores, maus construtores de histórias próprias.”
* Trecho retirado do livro “Educação-A solução está no afeto” Gabriel Chalita

sábado, 15 de junho de 2013

Corre que eles estão chegando!

Não sei se algum de vocês já fizeram isto que vou falar, mas eu já fiz isso muito e não me orgulho disso.


Sabe quando você vai receber uma visita em casa? Algum amigo antigo, distante, familiar que mora em outro estado, país ou alguém que você preza, considera importante e que não tem muito convívio diário com você? Pois bem... passava por essa situação algumas vezes. E o que fazia? Dentro do meu quarto bagunçado, com roupas jogadas em cima da cama, estante empoeirada e cd´s jogados no canto, meu banheiro sem sabonete novo e roupas pra lavar espalhadas e sala com um pouco de tudo que uso diariamente espalhado e "compartimentado" em diversos lugares, o que fazia? Em alguns minutos juntava tudo o que considerava "bagunça", abria as portas de armários e colocava tudo dentro. Passava aquele pano úmido ou com um produto pra dar uma leve lustrada nos móveis, um pano no chão pra dar um brilho melhor, arejava bem a casa e quando terminava, olhava orgulhoso e me perguntava: 

Por que não deixo tudo sempre assim?

Ao mesmo tempo que gostava da imagem que tinha da minha "nova casa", sabia que por dentro dos armários os objetos estavam lá: desorganizados, amontoados para que a parte de fora, visível aos olhos do ilustre visitante estivesse impecável ou bem próximo do "organizado". Quando pensava sobre isso, me questionava e tinha uma certeira conclusão: O problema não estava no interior dos armários, debaixo da cama ou o que foi varrido pra debaixo do tapete. O problema estava dentro de mim. Nas minhas ações cotidianas que precisavam de um pouco mais de organização. 

Bom... essa introdução toda foi feita, pois tenho me lembrado dessa história/situação diariamente. Para quem não sabe moro em Brasília há muitos anos. E o que tenho visto nos últimos dias no DF tem me chamado muito a atenção. Brasília tem se voltado para o término da construção do novo estádio orçado (por baixo) em um bilhão e meio de reais. Quem me conhece sabe o quanto gosto de esporte e o quanto acho legal ter uma possibilidade de sediarmos competições de alto nível e o impacto que isso pode causar nas próximas gerações. Mas a pergunta que faço é: A que preço devemos nos sujeitar para realizar competições como essa? A que custo e sob que condições? Pois quando penso nisso, confesso que fico extremamente inconformado com o caminho que os governantes, políticos e pessoas envolvidas nessa "organização" tomaram.


Acreditem em mim... Brasília está sendo maquiada. Quem passa próximo ao centro de Brasília todos os dias como eu, deve estar vendo. Às pressas, paredes são pintadas para apagarem as pichações. Placas são levantadas de uma dia pro outro, com base de sustentações metálicas que não faziam parte do cenário de quem por ali passava. E a cada dia que por ali passo, lembro do Rodrigo que arrumava as coisas em cima da hora. Que ao mesmo tempo que se orgulhava de deixar tudo um "brinco" antes da visita chegar, se envergonhava consigo mesmo de não ser tão organizado como tentava demonstrar.

Mas o que temos aqui são questões como: Projeto veículo leve sobre trilhos abandonado e com obras inacabadas infernizando a vida dos moradores há anos, metrô que só atende a um lado da cidade, ciclovia de qualidade duvidosa feito às pressas que é confundida com passarela de pedestres, ônibus no DF de qualidade extremamente duvidosa e com preço salgado, e o entorno não recebendo a atenção que merece. Claro, isso sem falar no nível de violência aumentando, sequestros relâmpagos e o consumo de crack acontecendo bem no centro do DF. Mas podem ter certeza, isso tudo será maquiado nos próximos dias e tudo será uma beleza.

Veja essa notícia antiga aqui. É de Brasília que eles estão falando?

E aí pergunto novamente: Nos orgulhamos de deixarmos "tudo pronto" para a "grande festa", ou repensamos nossa condição de "donos de casa"? Será que haverá algum tipo de reflexão?

O legado dos mega eventos não estão acontecendo para os Brasilienses. Os moradores que fazem a cidade acontecer diariamente não estão levando vantagem alguma e sendo beneficiados por nenhuma reformulação estrutural da cidade. Pelo contrário. O que existe na cidade são obras inacabadas, locais proibidos de entrar e uma "corrente" que prega o orgulho de receber um mega evento como esse. Os voluntários que ajudam no aeroporto, arredores do estádio e em locais estratégicos espalhados pela cidade não vão estar lá pro resto da vida. Confesso que não lembrei dessa minha história da casa bagunçada pela questão do arrumar em cima da hora. Todo esse acontecimento pré Copa das Confederações me fez lembrar dessa história pela pior parte. Pela sensação de vergonha interna. VERGONHA de saber de que nada disso que está sendo feito é para nós. Que a beleza externa esconde "armários bagunçados, tapetes que acomodam poeria debaixo de onde são colocados e que o brilho que reluz nos móveis da cidade", representam apenas um pano com algum produto milagroso que lustra rápido, deixa um cheiro bom, mas que dura apenas alguns dias. Vejo que a oportunidade de sediar um mega evento não nos ensinou que chance de mudarmos efetivamente de hábito, estava ali na nossa frente. E deixamos ela escorrer pelas nossas mãos. Deixamos escapar para trabalharmos a barganha e propaganda política, por "preguiça" de sermos organizados e principalmente por saber que nosso convidado ilustre ficará apenas por alguns dias. 

Para alguns, está tudo bem, tudo certo!

Repetimos o jeitão do brasileiro preguiçoso, malandro,  que sempre se dá bem, que é querido, esperto e sempre dá um jeitinho de conseguir as coisas, mas que no fundo é alguém inconsequente, que vive cada dia de uma vez sem se planejar, sem pensar que seu jeito de ser pode influenciar negativamente o costume dos mais novos que estão à sua volta. Perdemos a chance de dar exemplo e não acredito que para a Copa de 2014 a mentalidade mude. Isso não me impede de torcer para que a competição seja um sucesso, que não tenhamos problemas de violência e que tudo possa correr bem e ainda torcer pelo título da seleção brasileira. Ser crítico não é ser contra tudo, como muitos tentam direcionar para se defender. Na minha visão é o contrário. Ser crítico como estou tentando e me esforçando para ser é mostrar que acima de qualquer evento, amo a cidade que vivo e quero o bem dela.

Um bom exemplo de como tentam perverter a imagem de quem é crítico aos bastidores da copa está nesta propaganda que vi uma vez e que sinceramente sinto muita, mas muita vergonha de ver novamente.




E olhando a correria que foi essa última semana, com polícia se preparando para o evento e equipes de limpeza "varrendo a sujeira" da cidade para um "ralo" mais próximo, me dá a entender que daqui alguns dias voltaremos a ser como éramos. Com problemas estruturais, com hospitais incapazes de atender a demanda do dia a dia, com a educação pública ineficiente, mas com  a promessa de ações sempre paliativas como o eterno aumento de faixas nas principais estradas de circulação na cidade, por exemplo, acreditando que isso resolverá o problemas o trânsito que tende a parar nos próximos anos. Todas essas ações e soluções, muito mais baseadas em senso comum do que em estudos e preocupados com o avanço sólido e eficaz da cidade são o que temos para nós. Certos ou não é o que estão fazendo, mostrando que somos capazes de enfrentar qualquer desafio, mostrando um incrível orgulho brasileiro de poder bater no peito e falar: "Sediamos a copa!"


Ainda acredito que podemos ser muito mais que isso.