domingo, 21 de julho de 2013

O poder da derrota.





De tudo que vivi na vida, uma experiência em especial me ensina tanto e me produz significativa mudança. Estou falando da experiência da derrota. Derrotas, tanto no sentido literal quanto figurado, fazem parte da nossa vida em toda nossa trajetória. No meu caso, como trabalho com esportes, a derrota também diversas vezes está descrita no placar final de uma partida. Mas com o tempo de vida e de experiência de trabalho, aprendi que a derrota vai muito além de números expressos em placares eletrônicos. E quando você perde, quando o que você planeja na sua vida não dá certo, você é acometido por uma onda de observações e pensamentos que te fazem mergulhar dentro de si. Na derrota você é obrigado a vasculhar-se internamente e é claro que você sempre acaba encontrando "sujeiras" e questões não resolvidas. 

E acredito realmente que são nesses momentos que mais cresço. Não que eu fique em busca de derrotas na vida pra poder evoluir e que não aprenda e cresça em experiências bem sucedidas. Mas é que a derrota me causa um impacto imediato e reação interna que tem um alcance muito maior do que anos tentando ser melhor. Pra mim, dói demais, ecoa em minhas entranhas, mexe com minhas crenças, ações e reações, mas ajudam a reavaliar-me. 

Quando garoto adorava a sensação do sofrimento, aliás, remoía cada momento e me julgava diversas e repetidas vezes até esgotar-me em mim mesmo pra começar de novo. Hoje em dia não perco esse tempo todo. Hoje penso que não devemos sofrer tanto nas derrotas nem comemorarmos demais nas vitórias. A vida é um eterno vai e volta, sobe e desce e tudo muda o tempo todo. O importante é estar preparado para estas mudanças e preparado para mudar e continuar evoluindo. Mas se tem algo que me ataca com força e me causa extremo impacto é quando percebo que apesar de estar centrado, focado em melhorar e conseguir ter êxito, descubro que errei, que poderia ter feito diferente e que, por consequência disso, derrotas te acontecem. É foda. O baque, a pancada, a dor que causa é diretamente proporcional à vontade de dar a volta por cima. 

No primeiro dia acuso o golpe, ainda me mantenho ativo, falo com os outros conto o que estou sentindo, brinco com a situação (rir pra não chorar) e vou começando a sentir o gosto de tudo que não quero pra mim. No dia seguinte me isolo, me fecho, quero tentar entender de onde veio tudo isso, como cheguei até este patamar e começo a detalhar cada passo meu recente que pode ter me levado a tal situação. Nessa fase normalmente começo a perceber que posso ter cometido erros óbvios e que, por serem óbvios, foram deixados de lado, esquecidos e repetidos. Faço uma avaliação de que ponto estou e do que preciso recalcular pra seguir em frente. No terceiro dia já estou inquieto, querendo ter a chance de recomeçar. 

Claro que nem todas as situações são assim tão precisas e cartesianas. Alguns amigos meus sequer perdem tempo tentando entender o erro e procurando falhas. Partem pra próxima da mesma maneira que partiram antes e antecipam tudo pra começar novamente. Não sentem tanta dor, muito menos remorso, pulam essa fase pra não perder o foco na próxima tentativa. Tento praticar essa ideia, mas ainda não consigo plenamente ter esse tipo de maturidade e preciso de um tempo. Já outros colegas demoram mais. Curtem a fossa do sofrimento, se punem repetidas vezes e navegam pela ideia de serem sofridos, de poder explicar seus erros nas dificuldades. Bom... desse tipo de pessoa eu já me orgulho de não ser mais. 

Ok, eu remoo, penso, penso novamente, mas tenho a plena convicção de que só tentando novamente posso aprender de verdade e evoluir. E é assim que estou. Do segundo pro terceiro dia. Quase pronto pra começar de novo. No final das contas o que importa são as tentativas, os bons combates. Os resultados nem sempre serão lembrados, mas sim o que se fez das tentativas. Então é importante prosseguir. O que mais me dói é ver que por vezes não notamos o simples, caímos na rotina da correria, da não atenção aos detalhes. E por me considerar uma pessoa detalhista, isso dói, frustra, mas tem prazo. E o prazo se encerrou. É hora de programar o reinício, de se dar a chance de tentar novamente e o momento de ver se confio mesmo em mim, na minha pessoa, no meu trabalho e em tudo que planejei até aqui.

A ideia de recomeçar sempre me pareceu desafiadora. Não temo começar de novo. Mas com o tempo noto que você vai tentando evitar alguns recomeços. Só que viver e não ter a noção de que não podemos controlar tudo e de que não vamos acertar tudo é estar completamente fadado ao fracasso. Pois bem, a questão é aceitar os erros, aprender com eles, deixar passar e começar novamente.

Pronto pra prosseguir? Talvez sim, talvez não. Só na próxima tentativa para saber um pouco mais. 

terça-feira, 2 de julho de 2013

Não sei

Entre meus amigos e pessoas de convívio sou tratado como uma pessoa muito crítica. 

Não me incomodo com isso, muito menos acredito que estejam exagerando. Claro que junto disso muitos brincam que sou ranzinza, que sou por muitas vezes intolerante e que poderia ver mais beleza nas coisas do dia a dia. Entendo muito bem quando me dizem isso. Mas o fato de entender não me induz a concordar com tudo. Adoro quando essas críticas vêm, pois sempre são uma chance de repensarmos um pouco, mesmo que continue discordando certas vezes de afirmações como essas. E o fato de muitas vezes discordar dessas colocações é pelo simples fato de que muitas das pessoas que me "criticam" quanto a minha maneira de ser questionador ou crítico, são pessoas que continuam por aí tentando ser o que sempre foram, tentando explicar suas vidas na vida dos outros. Dizendo que todo mundo é assim. E é justamente isso que me causa uma sensação de inconformismo. Não somos assim porque todos são! Eu pelo menos não quero ser.

Sempre gostei de observar as pessoas, de ver como agem, como falam, como se comportam e porque reagem de certas maneiras devido certa situação. E o tempo me levou a ser professor acredito que muito por isso: Pela incrível diversidade com que lidamos dia a dia. Ser professor e lidar com variados tipos de pessoas é o que me desafia. De me relacionar com tipos e mais tipos de pessoas, de aprender com coisas que não acredito, de ver crianças muitas vezes mais maduras que eu e em muitas vezes aprender a como não ser com pessoas que eu acreditava que me ensinariam como deveria ser.  

Observando isso tudo desde sempre e muito mais fortemente desde que me descobri professor e que comecei a lecionar, vejo que o que se prega na vida é algo muito mentiroso diversas vezes. Está implícito em todos que a cada ano que passa, a cada idade a mais que temos, estamos mais próximos de nossas certezas e que por estarmos mais velhos, temos de saber de tudo. Acho isso uma tremenda babaquice. Eu sabia muito mais coisas quando era criança. Tinha muito mais certezas convictas e a cada dia que passo tenho mais dúvidas, saudáveis dúvidas eu diria. Porque a cada dia que passo entendo melhor diferenças, percebo que somos muitos e cada vez mais únicos. E essa diferença toda me dá cada vez mais respostas como "depende", "não sei", "talvez". E não é isso que recebemos de estímulo. Somos impulsionados a saber de tudo a cada ano que passa e aí se você não se enquadra nesse mundo, você começa a mentir que sabe, fingir que entende de tudo, entende da vida e se diz maduro. E aí estão pessoas cheias de dúvidas cobertas de falsas seguranças.

A cada dia percebo que sou muito do que diz uma passagem da uma música do Legião (teatro dos vampiros, estou ouvindo ela agora) que diz: "Acho que não sei quem sou, só sei do que não gosto".

É assim que me sinto. A cada dia que passa eu sei mais do que não quero ser como pessoa. Tenho mais convicções de que não quero ter uma vidinha vendo televisão, ostentando ser alguém que parece ser "completamente feliz", realizado e maduro. Gosto de ser inconformado, de querer mais e de cada vez mais não saber quem sou. Isso não me desmerece, não me rebaixa e a cada dia me realiza, pois me dá a chance de me reinventar a cada dia.




Gosto dessa insegurança, gosto dessa sensação de vulnerabilidade e de não saber como vai ser enquanto ao mesmo tempo estou cheio de metas, objetivos pessoais e sonhos a realizar. Muitos tentam te fazer pensar que não saber como vai ser é ser alguém sem rumo e sem objetivos. Ledo engano. Não saber como vai ser é ter seus objetivos, suas metas, seus caminhos propostos, mas estar pronto para saber lidar com a imprecisão que é a vida, com a real e inexorável certeza de que as coisas não serão como desejamos. O futuro que vem logo ali não será como pensamos. E aí é importante estar pronto para recomeçar. E pensar assim não me impede de ter planos e metas, mas me deixam prontos para redefinir-me, replanejar-me, repaginar-me. E isso não se ensina na escola, não está na tv, muito menos nas conversas de família.

O que se vê por aí é um estímulo a ser "normal", encaixado nos padrões que não te faça correr "perigos", mas que pouco te faça viver descobertas. Por isso agradeço por ser ranzinza, incompleto, inconformado, intolerante, incapaz e outros tantos adjetivos que definam minha performance voltada ao imperfeito.

Confesso me preocupar com o futuro de meus sobrinhos, alunos e dos jovens em geral. Acredito no poder de transformação dos mais novos, mas temo pelo que se tem ensinado a eles. Fórmulas de sucesso de gente que se escondeu da vida a vida inteira. Queria que a nova geração viesse pra desestabilizar essas certezas de futuro que boa parte das pessoas falam. Tento criar essa realidade pelo menos no meu caminho. Para alguns sou apenas um amigo/conhecido/professor que "viaja", "perdido", que não sabe o que quer.. sem problemas. Tento não olhar pelo ponto de vista do que vão pensar, mas pelo ponto de vista do que estou fazendo. "Será que estou agindo como acredito?" Essa pergunta me ajuda a seguir um caminho melhor e que me satisfaça a cada dia que vivo. Ser justo consigo mesmo dá um alívio danado, sabia? Já perdi muito tempo da minha vida tentando ser o que achavam pra mim que eu poderia me tornar.

Hoje em dia sou apenas eu. Mesmo que ainda não saiba ao certo quem sou.