quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Meu Rio

Uma brecha na agenda, uma mini folga tão rara no fim de semana e cá estou eu no Rio de Janeiro, cidade na qual vim ao mundo e que por anos me fez sentir saudade e me deu a sensação de frustração por nela não morar.

 O Rio foi a minha primeira grande paixão na vida. Eram três meses vivendo aqui, de férias, com intenso aprendizado e nove meses com imensa saudade. Saudade dos familiares, de ver o Cristo Redentor, das paisagens, do calor, das pessoas que conversam naturalmente e com uma série de situações que me faziam acreditar que aqui era o meu lugar. Com o passar do tempo, aprendi que Brasília tinha um lugar sólido em minha vida. Cidade que deu meus amigos, que me formou e me deu direção a caminho da realização dos meus sonhos. E graças a ela, descobri que de apaixonante existem diversos lugares. 

Como numa crise adolescente, fiquei de mal do Rio por diversos fatores e me permiti conhecer novos lugares. Lugares esses que me fizeram perceber de forma intensa o poder das diferenças como forma de aprendizado e completude. E assim, me enveredei por diversos locais, vivencias e situações novas, o que me fez aprender em grande escala sobre questões que considero essenciais em minha vida. O Rio então tornou-se um local para visitar rapidamente os familiares, para um descanso breve e volta rápida para seus afazeres.

Mas na situação atual da minha vida, de começar a olhar pra trás e ver sentido nas coisas, eis que me encontro de volta ao Rio, completamente fora de época, buscando descanso e refúgio como quem o faz quando volta para a casa dos pais. Um completo porto seguro onde se reabastece as energias, mas lembra-se de onde veio, quem és e o que está a buscar.  E estar de volta na fase atual que vivo, onde começo a perceber os pequenos frutos que aparecem devido a muitos anos de esforço e dedicação em busca de alguns sonhos, consigo então perceber que só o Rio de Janeiro teria a capacidade de me receber como recebeu. Estar aqui de volta é lembrar do meu primeiro e eterno grande amor. Dos grandes sonhos que tive e das promessas que me fiz. E aí percebo como essa relação de inúmeros encontros e despedidas com o Rio me ensinaram a ser quem sou. 

O sonho que tive de morar aqui quando menor, que me fazia chorar toda vez que ia embora e que me enchia de boas lembranças durante o ano inteiro estando distante, me ensinou a amar e a saber esperar. Me ensinou a entender que enquanto esperava e acreditava que haveria um novo encontro, era preciso continuar vivendo, crescendo, aprendendo e produzindo. E aí percebo que o Rio me deixou diversos legados que foram além da saudade pela cidade que tanto amo. O Rio me ensinou que não posso parar enquanto espero. E que é possível amar muito além do que apenas um mesmo lugar. E assim, desenvolvi um amor hoje em dia mais maduro por Brasília e por outros tantos lugares. Hoje, ao ver o último pôr do sol por aqui antes de retornar a Brasilia, percebi o quanto devo a este lugar e o quanto sou filho daqui mesmo estando a maior parte da minha vida distante. 

Mesmo sendo crítico ao que vejo muito mais claramente por aqui como essa mania de ser o mais esperto e melhor em tudo, mesmo vendo a banalização absurda da violência, da lei de Gérson e a tudo que apologize o se dar bem sem fazer muito esforço, vejo que aqui ainda é o meu lugar, meu berço, minha identidade e de onde vim. Estar aqui por alguns dias, reencontrar familiares, avistar paisagens que continuam ali, belas, no mesmo lugar, são acontecimentos que simplesmente me dão sentido. Dão o sentido que preciso para voltar a Brasília e mergulhar cada vez mais forte em meus sonhos, em busca da realização que busco e que me dá sentido na vida.
 
Confesso que é muito bom saber que essa paixão continua aqui em mim guardado em um cantinho o amor pela minha casa. Para a cidade que, apesar das imensas críticas que tenho, me dão a força necessária para seguir em frente. E me dão a certeza de que, em breve, estarei de volta para agradecer pelos eternos ensinamentos e para matar a saudade novamente. Talvez só quem seja do Rio possa entender o impacto que causa avistar o Cristo de longe se aproximando ou mesmo sentir a água gelada do mar batendo em seus pés ao andar pela areia em direção a um breve mergulho. 

Missão cumprida mais uma vez. Agora é hora de voltar.