sábado, 15 de junho de 2013

Corre que eles estão chegando!

Não sei se algum de vocês já fizeram isto que vou falar, mas eu já fiz isso muito e não me orgulho disso.


Sabe quando você vai receber uma visita em casa? Algum amigo antigo, distante, familiar que mora em outro estado, país ou alguém que você preza, considera importante e que não tem muito convívio diário com você? Pois bem... passava por essa situação algumas vezes. E o que fazia? Dentro do meu quarto bagunçado, com roupas jogadas em cima da cama, estante empoeirada e cd´s jogados no canto, meu banheiro sem sabonete novo e roupas pra lavar espalhadas e sala com um pouco de tudo que uso diariamente espalhado e "compartimentado" em diversos lugares, o que fazia? Em alguns minutos juntava tudo o que considerava "bagunça", abria as portas de armários e colocava tudo dentro. Passava aquele pano úmido ou com um produto pra dar uma leve lustrada nos móveis, um pano no chão pra dar um brilho melhor, arejava bem a casa e quando terminava, olhava orgulhoso e me perguntava: 

Por que não deixo tudo sempre assim?

Ao mesmo tempo que gostava da imagem que tinha da minha "nova casa", sabia que por dentro dos armários os objetos estavam lá: desorganizados, amontoados para que a parte de fora, visível aos olhos do ilustre visitante estivesse impecável ou bem próximo do "organizado". Quando pensava sobre isso, me questionava e tinha uma certeira conclusão: O problema não estava no interior dos armários, debaixo da cama ou o que foi varrido pra debaixo do tapete. O problema estava dentro de mim. Nas minhas ações cotidianas que precisavam de um pouco mais de organização. 

Bom... essa introdução toda foi feita, pois tenho me lembrado dessa história/situação diariamente. Para quem não sabe moro em Brasília há muitos anos. E o que tenho visto nos últimos dias no DF tem me chamado muito a atenção. Brasília tem se voltado para o término da construção do novo estádio orçado (por baixo) em um bilhão e meio de reais. Quem me conhece sabe o quanto gosto de esporte e o quanto acho legal ter uma possibilidade de sediarmos competições de alto nível e o impacto que isso pode causar nas próximas gerações. Mas a pergunta que faço é: A que preço devemos nos sujeitar para realizar competições como essa? A que custo e sob que condições? Pois quando penso nisso, confesso que fico extremamente inconformado com o caminho que os governantes, políticos e pessoas envolvidas nessa "organização" tomaram.


Acreditem em mim... Brasília está sendo maquiada. Quem passa próximo ao centro de Brasília todos os dias como eu, deve estar vendo. Às pressas, paredes são pintadas para apagarem as pichações. Placas são levantadas de uma dia pro outro, com base de sustentações metálicas que não faziam parte do cenário de quem por ali passava. E a cada dia que por ali passo, lembro do Rodrigo que arrumava as coisas em cima da hora. Que ao mesmo tempo que se orgulhava de deixar tudo um "brinco" antes da visita chegar, se envergonhava consigo mesmo de não ser tão organizado como tentava demonstrar.

Mas o que temos aqui são questões como: Projeto veículo leve sobre trilhos abandonado e com obras inacabadas infernizando a vida dos moradores há anos, metrô que só atende a um lado da cidade, ciclovia de qualidade duvidosa feito às pressas que é confundida com passarela de pedestres, ônibus no DF de qualidade extremamente duvidosa e com preço salgado, e o entorno não recebendo a atenção que merece. Claro, isso sem falar no nível de violência aumentando, sequestros relâmpagos e o consumo de crack acontecendo bem no centro do DF. Mas podem ter certeza, isso tudo será maquiado nos próximos dias e tudo será uma beleza.

Veja essa notícia antiga aqui. É de Brasília que eles estão falando?

E aí pergunto novamente: Nos orgulhamos de deixarmos "tudo pronto" para a "grande festa", ou repensamos nossa condição de "donos de casa"? Será que haverá algum tipo de reflexão?

O legado dos mega eventos não estão acontecendo para os Brasilienses. Os moradores que fazem a cidade acontecer diariamente não estão levando vantagem alguma e sendo beneficiados por nenhuma reformulação estrutural da cidade. Pelo contrário. O que existe na cidade são obras inacabadas, locais proibidos de entrar e uma "corrente" que prega o orgulho de receber um mega evento como esse. Os voluntários que ajudam no aeroporto, arredores do estádio e em locais estratégicos espalhados pela cidade não vão estar lá pro resto da vida. Confesso que não lembrei dessa minha história da casa bagunçada pela questão do arrumar em cima da hora. Todo esse acontecimento pré Copa das Confederações me fez lembrar dessa história pela pior parte. Pela sensação de vergonha interna. VERGONHA de saber de que nada disso que está sendo feito é para nós. Que a beleza externa esconde "armários bagunçados, tapetes que acomodam poeria debaixo de onde são colocados e que o brilho que reluz nos móveis da cidade", representam apenas um pano com algum produto milagroso que lustra rápido, deixa um cheiro bom, mas que dura apenas alguns dias. Vejo que a oportunidade de sediar um mega evento não nos ensinou que chance de mudarmos efetivamente de hábito, estava ali na nossa frente. E deixamos ela escorrer pelas nossas mãos. Deixamos escapar para trabalharmos a barganha e propaganda política, por "preguiça" de sermos organizados e principalmente por saber que nosso convidado ilustre ficará apenas por alguns dias. 

Para alguns, está tudo bem, tudo certo!

Repetimos o jeitão do brasileiro preguiçoso, malandro,  que sempre se dá bem, que é querido, esperto e sempre dá um jeitinho de conseguir as coisas, mas que no fundo é alguém inconsequente, que vive cada dia de uma vez sem se planejar, sem pensar que seu jeito de ser pode influenciar negativamente o costume dos mais novos que estão à sua volta. Perdemos a chance de dar exemplo e não acredito que para a Copa de 2014 a mentalidade mude. Isso não me impede de torcer para que a competição seja um sucesso, que não tenhamos problemas de violência e que tudo possa correr bem e ainda torcer pelo título da seleção brasileira. Ser crítico não é ser contra tudo, como muitos tentam direcionar para se defender. Na minha visão é o contrário. Ser crítico como estou tentando e me esforçando para ser é mostrar que acima de qualquer evento, amo a cidade que vivo e quero o bem dela.

Um bom exemplo de como tentam perverter a imagem de quem é crítico aos bastidores da copa está nesta propaganda que vi uma vez e que sinceramente sinto muita, mas muita vergonha de ver novamente.




E olhando a correria que foi essa última semana, com polícia se preparando para o evento e equipes de limpeza "varrendo a sujeira" da cidade para um "ralo" mais próximo, me dá a entender que daqui alguns dias voltaremos a ser como éramos. Com problemas estruturais, com hospitais incapazes de atender a demanda do dia a dia, com a educação pública ineficiente, mas com  a promessa de ações sempre paliativas como o eterno aumento de faixas nas principais estradas de circulação na cidade, por exemplo, acreditando que isso resolverá o problemas o trânsito que tende a parar nos próximos anos. Todas essas ações e soluções, muito mais baseadas em senso comum do que em estudos e preocupados com o avanço sólido e eficaz da cidade são o que temos para nós. Certos ou não é o que estão fazendo, mostrando que somos capazes de enfrentar qualquer desafio, mostrando um incrível orgulho brasileiro de poder bater no peito e falar: "Sediamos a copa!"


Ainda acredito que podemos ser muito mais que isso.





Um comentário:

  1. Pessoa que mora em Bsb (tipo eu!) tem que concordar com esse texto e compartilhá-lo, pq olha... Muita maquiagem pra uma cidade só.

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